segunda-feira, 8 de agosto de 2011

Uma atitude que salvou um casamento

O dia finalmente chegou. Eu insisti o quanto pude para manter
meu casamento. Assim que Fábio, meu marido, saiu para o trabalho,
 fiz uma única mala para mim e meu filho de 14 meses e abandonei
nosso lar. Este era o único ano em nosso casamento que vivíamos
na mesma cidade que meus pais. Obviamente, a conveniência de
poder correr para os braços de papai e mamãe tornou a decisão
 de deixar Fábio mais fácil.

Foi com um rosto enraivecido e molhado de lágrimas que entrei
na cozinha de minha mãe. Ela pegou o bebê enquanto eu, entre soluços,
 fazia minha declaração de independência. Depois de lavar o rosto
e tomar um copo de coca, mamãe me disse que papai e ela me ajudariam.
 Era reconfortante saber que eles estariam ali para me apoiar.

– Mas, antes que deixe Fábio definitivamente – ela disse –,
 tenho uma tarefa para você.

Minha mãe colocou o bebê adormecido na cama e, pegando uma
folha de papel e uma caneta, traçou uma linha vertical dividindo a
folha ao meio. Ela me explicou que eu deveria escrever na coluna
da esquerda uma lista de todas as coisas que Fábio havia feito
e que tornavam impossível a convivência com ele. Conforme observava
a linha divisória, imaginei então, que ela me pediria para relacionar
as boas qualidades de Fábio na coluna da direita. “Vai ser fácil”, pensei.

Imediatamente a caneta começou a deslizar sobre o papel,
e rapidamente cheguei ao final do lado esquerdo. Para começar,
 Fábio nunca juntava as roupas que ele deixava pelo chão, sempre
 deixava a toalha molhada na cama. Nunca me avisava quando ia sair.
Dormia durante os cultos. Tinha hábitos deselegantes e embaraçosos,
como por exemplo, assoar o nariz ou arrotar à mesa.
Nunca me comprava
bons presentes. Recusava-se a combinar as roupas, era rigoroso com
gastos e não me ajudava com as tarefas domésticas. Também não
 gostava de conversar comigo. Deixou de ser romântico.
A lista continuava até encher toda a folha.

Certamente eu tinha evidências mais do que suficientes para provar
que nenhuma mulher seria capaz de viver com este homem.

Declarei pretensiosamente, logo que terminei:

– Agora sei que você vai me pedir para escrever as boas qualidades
 de Fábio do lado direito.

– Não – ela respondeu. – Eu já conheço as qualidades de Fábio.
Em vez disso, gostaria que, para cada item do lado esquerdo,
escrevesse qual foi a sua reação e o que você fez.

Bem, isto já seria mais difícil. Eu já havia pensado nas poucas
qualidades de Fábio que poderia mencionar. Porém, em nenhum
momento considerei pensar sobre mim mesma. Eu tinha certeza
que mamãe não me permitiria deixar a tarefa incompleta. Então,
 comecei a escrever a segunda coluna.

Em resposta às atitudes dele eu fazia cara feia, chorava e sentia raiva.
Eu me envergonhava de sua companhia. Eu me comportava como uma
 “mártir”. Desejava ter me casado com outra pessoa. Dava-lhe o
 “tratamento silencioso”. Acreditava que era boa demais para ele.
O meu lado da lista parecia não ter fim.

Quando cheguei ao final da página, mamãe pegou o papel da minha
 mão e foi até a gaveta do armário. Ela pegou uma tesoura e cortou-o
 ao meio no sentido da linha vertical que havia traçado. Pegou a coluna
da esquerda, amassou-a e a jogou no lixo; e voltando-se em minha
direção me entregou o lado direito.

– Ana, leve esta lista de volta para casa com você –, ela me disse.
– Passe o restante do dia refletindo sobre ela. Ore sobre isso.
Cuidarei do bebê até o anoitecer. Se fizer o que estou lhe pedindo,
e depois se você sinceramente ainda quiser se separar de Fábio,
 seu pai e eu estaremos aqui para lhe ajudar.

Encarando os fatos

Deixando a bagagem e meu filho na casa dos meus pais, dirigi de
volta para casa. Assim que sentei no sofá com aquele pedaço de papel
 na mão, não pude acreditar no que estava vendo. Mesmo sem uma
análise adequada dos hábitos irritantes de meu marido,
a minha lista parecia simplesmente horrível.

O que eu podia ver era um verdadeiro recorde de comportamentos
 mesquinhos, atitudes vergonhosas e reações destrutivas.
Gastei as horas que se seguiram pedindo a Deus que me perdoasse.
Pedi a Deus força, orientação e sabedoria para as mudanças
que agora eu sabia que teriam que ocorrer em mim. à medida
que continuava orando, percebi a maneira ridícula com que estava
me comportando. Eu me lembrava vagamente das transgressões que
tinha escrito para Fábio. Era uma lista completamente absurda.
Não havia nada de tão horrível ou imoral nela. Na verdade, eu havia
 sido abençoada com um bom homem – não um homem perfeito,
mas um bom homem.

Meus pensamentos recuaram até cinco anos atrás. Eu havia feito
um voto a Fábio. Eu o amaria e o honraria na saúde ou na doença.
 Estaria com ele para o melhor e para o pior. Eu havia dito essas
 palavras na presença de Deus, da minha família e dos nossos amigos.
 E hoje, pela manhã, estava pronta para abandoná-lo por causa
de aborrecimentos triviais.

Neste momento peguei o carro e voltei à casa de meus pais.
Eu estava maravilhada de como me sentia tão diferente de quando
havia chegado da primeira vez, de manhã, para encontrar minha mãe.
 Agora me encontrava em paz; sentia-me agradecida e aliviada.
Quando peguei meu filho de volta, senti-me alarmada ao pensar em
como estava prestes a fazer uma mudança tão drástica em minha vida.
Meu egoísmo quase custara a essa criança a oportunidade de conviver
todos os dias com um pai maravilhoso. Agradeci a minha mãe,
e rapidamente saí porta afora, de volta para minha casa. No horário
em que Fábio costumava chegar do trabalho, eu já havia desfeito a
mala e esperava por ele.

Um novo olhar

Eu adoraria poder dizer que Fábio mudou. Mas isso não aconteceu.
Ele ainda faz as mesmas coisas que “me aborrecem, me envergonham
e me deixam a ponto de explodir”.

Na verdade, a mudança aconteceu comigo. Daquele dia em diante,
me tornei responsável não apenas por minhas ações em nosso casamento,
 mas também por minhas reações.

Ainda me recordo de um item da lista: Fábio dormia durante os cultos.
 O momento em que ele começava a cochilar sempre marcava o fim do
meu período de adoração.
Eu acreditava que ele, de propósito, não tinha o menor interesse na
mensagem – e meu pai era o pregador! Eu não me importava com o
fato de Fábio não ser capaz de permanecer acordado a qualquer hora
por longos períodos. O tempo que ele gastava cabeceando de tanto
sono eu gastava bufando de raiva. Sentia-me envergonhada no meio
da congregação. Era uma grande humilhação. Tentava imaginar por
qual razão eu havia casado com esse homem. Certamente ele não
merecia uma esposa tão boa quanto eu!

Somente agora podia enxergar claramente como eu era.
Meu orgulho estava atrapalhando uma parte muito importante
da minha vida: a minha adoração. Agora, quando Fábio cochilava
na igreja, eu gastava esse momento em oração e agradecimento.
 Desviava os meus olhos dele dormindo e de mim mesma, para
concentrar o meu olhar apenas em Deus. Em vez de deixar a
igreja furiosa, passei a sair cheia de alegria.
Não demorou muito até que Fábio percebesse a diferença.
 Ele comentou durante um almoço de domingo: “Você parece estar
gostando mais dos cultos ultimamente. Eu já estava começando a
pensar que você não gostava do pregador.” Meu instinto imediato
seria contar-lhe como ele havia arruinado tantos cultos que assisti.
 Mas, ao contrário, aceitei seu comentário sem erguer minhas defesas.

Refazendo a lista

Tenho refeito essa lista muitas vezes ao longo dos anos.
Continuo pedindo perdão a Deus pelo meu comportamento patético
e sabedoria para vivenciar o meu casamento.
Quinze anos depois desta experiência, Fábio, aos 49 anos,
foi diagnosticado como portador do Mal de Alzheimer. Ele teve que
abrir mão de seu trabalho como professor, e assumi o sustento da
família, o que nos levou a dias de muitas tentativas e noites de
muita preocupação. Observá-lo lutando para manter suas habilidades
 básicas diárias tem sido uma grande inspiração tanto para mim
quanto para nossos filhos. Precisamos depender de nossa fé para
crer que Deus está no controle – especialmente quando sentimos
não ter controle algum da situação. Temos procurado na Bíblia as
 respostas para estas questões difíceis de entender. Gastamos
nosso tempo com emoções que vão desde a raiva até a tristeza.
Perguntamo-nos, “Por quê?”. Nesses momentos, clamamos a
Deus e pedimos que nos dê a paz que excede a todo entendimento.

Lamentavelmente, existem dias em que minha paciência está quase
 esgotada mesmo sabendo que Fábio não pode evitar certas coisas
que me irritam. Então, percebo a minha responsabilidade em reagir
com o amor que Deus tem me mostrado. Clamo a Deus e peço que
ele ame Fábio através de mim – porque sei que não sou capaz de
amar Fábio da maneira que Deus o ama.

Agradeci a Deus muitas vezes por ter uma mãe que foi minha
mentora espiritual. Embora tenha certeza de que se sentiu tentada
a fazê-lo, naquele dia mamãe não me passou um sermão ou me deu
sua opinião sobre o meu comportamento. O que ela fez foi conduzir-me
a descobrir a verdade que salvou o meu mais precioso bem:
meu casamento. Se não tivesse aprendido a reagir como uma
esposa cristã aos pequenos problemas de Fábio, eu jamais seria
capaz de reagir de maneira adequada aos grandes problemas
que hoje enfrentamos.

Ao chegar em casa outro dia, meu filho me perguntou o seguinte:

– Mãe, o que vamos fazer quando papai não se lembrar mais de nós?
– Bom, nós vamos nos lembrar de quem ele é. Lembraremo-nos do
pai e do marido que ele foi. Vamos nos lembrar de tudo que ele
nos ensinou e da maneira maravilhosa com que ele nos amava. –
Respondi.

Depois que meu filho saiu da sala, fiquei pensando neste homem
 que amou sua família e o seu Deus. Sorri comigo mesma:
muitas das minhas lembranças mais vívidas eram daqueles
pequenos hábitos irritantes que me levaram a fazer uma lista
de defeitos anos atrás.

Versão contextualizada, Becky Zerbe é a autora de Laughing with My Finger in the Dam,
 e é casada com Bill há 29 anos.

3 comentários:

  1. Nossa, que testemunho lindo, esse.
    Me fez repensar minha vida matrimonial que também não anda fácil.
    O maior milagre continua sendo o amor, que só conhece a pessoa que vive com Jesus!
    Parabéns pelo blog.

    Simone Faith
    adoracaoreverente.com

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  2. marilse
    oi obrigada por este testemunho.
    por Deus ter usado sua mae. ela e uma mulher sabia.
    eu estva precisando ler algo assim.
    quando sentei em frente do computador estava agoniada porque meu casamento esta por um fio. cacando algo para me aconcelhar tenho certeza que foi por Deus que abri esse blog.vou fazer essa lista tbm.
    pra mim refleti.
    um grande abraco.
    DEUS possa continuar te abencoando.
    esse testemunho vai salvar muito casamento.
    principalmente o meu.
    fica com.
    DEUS!!!

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  3. Olá este testemunho é muito lindo!
    Gostaria de lhe pedir autorização para coloca-lo em meu blog.
    Priscila Guedes

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